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quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Tu és limitado... tu és limitado"


            Aquelas palavras ecoavam em sua mente, incomodavam como se fossem um maldito zumbido que irritava seus ouvidos. “Tu és limitado... tu és limitado”, ele dizia enquanto o corpo mostrava que era de carne e a mente insistia em viver como se ele fosse de aço. Era de fato limitado. Sua carne era simplesmente carne, humano. Era obrigado a viver dentro daqueles limites impostos pela sua carne.
            Costumavam dizer que ele estava fora dos padrões, não se encaixava em nenhum dos perfis, era diferente. Singular. Incomum. Estranho. Porém ele seguia padrões, os seus próprios padrões. Era dominado pela razão, afinal, somos ou não somos animais racionais? As pessoas costumam se dar bem com suas próprias regras, elas se adaptam a você ou você se adapta a elas. São as regras mais fáceis de serem seguidas, as suas. Enfim, ele conseguia manter o seu foco seguindo os seus padrões despadronizados.
            Os padrões funcionavam, era a sua forma de manter tudo sob controle, todavia as forças externas e as muitas variáveis da vida sempre arrumam um jeito de te deixar em terreno aberto, desprotegido, vulnerável. Vulnerabilidade. Quando essa é a condição, quando estamos em terreno aberto descobrimos a nossa real força, descobrimos os limites, temos a noção de até onde podemos chegar. Quando as barreiras desaparecem, as trincheiras somem, quando estamos nus os olhos que nos olham nos olhos podem cegar.
            Então ele foi de encontro aos limites, sim, os limites que todos dizem que foram feitos para serem ultrapassados, foi aí que descobriu que nem todos os limites podem ser ultrapassados, porque ele mesmo se viu limitado. “Tu és limitado” caiu sobre a sua cabeça com o peso de mil sóis. Localizou-se no tempo e no espaço e achou o que era: humano. Tem veias e o fluido que corre nelas é sangue. É de carne, não de aço. É limitado. Comum. Comum. Comum. Aquelas palavras ecoavam em sua mente, incomodavam como se fossem um maldito zumbido que irritava seus ouvidos: “Quantas variáveis tem a vida? Quantas variáveis tem a vida?”.

Um comentário:

Causticidade Cotidiana disse...

Seguir nossas próprias regras é fácil. Nos adaptamos à elas, adaptamos elas à nós. É fácil sair-se vencedor em seu próprio jogo. Dentro de nosso mundo, somos soberanos. Mas acontece que a vida é o mundo exterior, as regras exteriores. As regras de fora jamais se adaptarão à nós. Ou nos acostumamos, ou caímos.
Acontece ainda que, dentro de nosso mundo, somos ilimitados, devido ao fato de que nosso limite não existe, uma vez que tudo pode ser alterado a qualquer instante. Agora, fora do nosso mundo, tudo muda e, infelizmente, quando atingimos nosso limite, não há o que se fazer. Não há como desafiar e querer mudar algo que existe e acontece desde sempre. Resta-nos aceitar que somos limitados e que, um dia, cairemos por terra.
Texto que caiu perfeitamente para mim. Essa semana foi curta, porém intensa (e tensa rs) e sei lá...talvez eu tenha reconhecido que sou bem limitado também.
Muito bom mesmo, Marina!

Beijos!

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