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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Yours always, M.

Hoje é o dia 18 de outubro de 2017. Faz 17 dias que eu recebi um bilhete do futuro. Tal bilhete não estava endereçado a mim. Fala de alguém que ainda não conheço, mas acredito que estarei lá para vê-la quando ela chegar. Veio escrito em outra língua, dizia, em tradução literal:

"Hoje é o primeiro dia de outubro de 2022, espero que você lembre as circunstâncias em que você estava quando eu te escrevi isto e perceba: a vida não é apenas sobre o aqui e agora.

Spoiler alert: também é sobre o primeiro dia de outubro de 2027."

Faz 17 dias que eu consigo me imaginar acordando na manhã seguinte. Que estou curiosa para conhecer a quem o bilhete estava endereçado. Que imagino o que haverá em primeiro de outubro de 2022. Que tenho ideias sobre o primeiro dia de outubro de 2027. Faz 17 dias que o aqui e agora não é o que há de mais relevante, porque hoje é o dia 18 de outubro de 2017 e eu deveria estar estudando para a prova de amanhã, e de alguma maneira estas palavras nesta página parecem mais relevantes.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Ex movere

Há um silêncio completo, exceto na minha mente, meus joelhos tremem e se chocam, tilintam, de maneira que sei que há barulho, imagino o som, mas não ouço realmente nada. Se eu segurar minha respiração, consigo perceber o som do meu coração batendo contra o meu corpo. No mais, não há outros sons, ou mesmo memória deles. Meus joelhos, falava sobre eles. Meus joelhos estão sendo forçados a seguir, estou entre essa multidão de pessoas, não há voltar ou olhar para os lados, não consigo ver o que há em frente, mas sigo sendo empurrada. Isso não é resiliência, que esteja claro. Resiliência é essa palavra da moda, que muitas pessoas adoram usar, e não, não é resiliência, talvez apatia. E sigo, porque não há mesmo o que se fazer, apenas seguir. Agora já não me incomodam os corpos que se chocam contra o meu, nem mesmo a sensação de que não há ar suficiente para todos, não estou preocupada com os joelhos que me falham, simplesmente não há como cair. Talvez deva me sentir agradecida pela multidão sufocante que me impulsiona à frente. Talvez devesse começar a me perguntar aonde todos estão indo, o que será que as pessoas lá na frente estão enxergando? Não consigo ver daqui. Sendo sincera, não consigo lembrar como vim parar aqui, quando dei por mim já estava aqui, com essa sensação de que o mundo inteiro é uma estufa e todas as sensações são abafadas. Ex movere. Aonde estão me levando?

terça-feira, 16 de maio de 2017

Não traga sonhos a esta casa

Grande pequena suja, dos sonhos feitos de biscoito, tão doces e quebráveis. Estás a deixar migalhas por todos os lados, sujas o chão com estes sonhos despedaçados. Quem dera tu tivesses me ouvido antes, quando te falava sobre não carregar tais biscoitos ao peito, trazendo-os à casa. Deixa-os do lado de fora, aqui não podem estar. Aqui dentro somos eu e você, pequena, contra o mundo. Nesta casa estamos presas e nada de biscoitos. Se te privo é porque te amo. Espero que cresças forte e não precises mais de mim, pequena. Cheguei velha a este mundo e a decrepitude do mesmo só me fez mais velha, e forte. Não traga sonhos a esta casa, pequena, não os aceite ao te oferecerem na rua. Dirão que precisas de doçura, mas ninguém limpa-te as migalhas em casa, exceto eu. Não há doçura que mereça a sujeira que fazes, pequena, estás perdida e sem nada mais a carregar junto a este peito que ainda não sabe se manter. Deixa-os do lado de fora, aqui dentro apenas a velha a te proteger. Do mundo.

domingo, 14 de maio de 2017

Are you going to age with grace?

I turn 24 today, you wished me a happy birthday and told me that I need to keep myself alive, you said there's no guarantee we'll meet in the afterlife. You told me you wanna see me age, become a better woman, acquire new flaws and new qualities. Said you're not only in love with me now, but you love me here and you'll love me then. Said you feel inexplicably connected to me. I've never been in the presence of someone that comfortable with me. I've never been so comfortable in exposing myself either. Maybe we are really connected. Quantum entanglement? You are the one to figure it out. You're happily welcomed to my isolated system. Guess it's ours now. We'll keep ourselves isolated, in hope someday we'll be out of our perfect bubble in this stupid parallel universe. No, seriously, we're both fucked up people, I hope we can be fucked up together, maybe someday in the future. The odds are against us, though. I can only be grateful for having you, you made me dream again. Life will probably put us in different roads, but you gave me a great plot to a love story book. Hope I can keep writing about us and the benign indifference of the universe.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Sinto-me exposta, invadida, vulnerável. Estou lutando para trancar todas as portas que conseguir encontrar, e cada tentativa é uma nova falha, sempre há uma fresta, uma nova invasão. Eu não sei compartilhar. Escrever aqui abre uma nova fenda. Mais exposição. Eu não sei fazer diferente.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

I have this stupid feeling that something is not real until you write it down. Now, by writing it down, I'm turning it into something real. I have this dream in which I feel so much desire that it turns into suffering. It's so good that it turns into a bad thing. And I love that. It's like having this pleasure in pain. And I can't get enough of it, I'm addicted to it. My mind is a mess, I can admit to it, no need to hide anything, but now in this dream I can feel as everything is in a right place, as if I was the sanest person who ever existed, which can not be true, as all that I'm saying makes no sense. Can you fall in love with someone's mind?

domingo, 16 de abril de 2017

I'm feeling paranoid. Anxiety is killing me. Can't trust anyone. Starting to think everyone is trying to sabotage me. I don't need help. It's just a stupid thing caused by stress. I've been stressed lately. I have this feeling in my throat, can't breathe properly. I'm fated to pretend. There's this feeling of being a flame which is about to be extinguished. Wanna see the blast, wanna see it in slow motion, wanna feel it lacerating me, I was always set to self-destruction. The soldier said he's not afraid to die. I don't understand death, it gives me the creeps, it feels quite stupid the everyday task of going against entropy, though. I don't want the balance, want life to be raw, exposed flesh. Can't trust myself. Starting to think I'm trying to sabotage me.