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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Ensaio sobre um falso hedonista

Escravos cardíacos desse ego imundo e cheio de fome. Todos os dias o alimentamos e a fome só cresce e cresce, porque tudo é vaidade. "Live with full pleasure 'til you are alive", diz a voz do seu algoz bem junto ao ouvido, sussurrando sensualmente, como se você tivesse escolha, como se não fosse mero escravo de suas vontades egocêntricas. Todos os dias o alimentamos com prazer em troca de não haver nenhuma dor. Não há mais dor, apenas prazer e prazer, até que prazer não é suficiente. O que posso oferecer como alimento agora? "Just let your desire flourish, your heart will forget all the pain. Follow your desire, fulfill your needs upon earth", voz dionisíaca e hipnótica, que será que desejo eu? Não há prazer que preencha essa fome e não há filho de Dioniso que possa orgulhá-lo mais do que eu. Como posso acabar com sua fome? Como ser mais Apolo que Dioniso? Todos os dias o alimentamos e a fome só cresce, porque tudo é apenas vaidade.

Um comentário:

Causticidade Cotidiana disse...

Marina, o questionamento que você levantou neste texto é parte daquilo que me mata diariamente. Somos escravos e ao mesmo tempo senhores. Somos escravizados por tudo aquilo que nos traz prazer porque somos viciados nisso, o que nos leva ao ponto de escravizar quem ou o que se fizer necessário para também atingirmos o prazer.
Tyler Durden, personagem de Chuck Palahniuk em Clube da Luta, nos diz que "somos subproduto de uma obsessão por um estilo de vida". E há como discordar? Estamos sempre lutando por alguma futilidade a mais, e quando achamos que estamos completos, percebemos que falta mais isso, falta mais aquilo, e como num passe de mágica, estamos famintos novamente.
Em outras palavras, nunca nos sentimentos completos. Se isso fosse revertido de maneira positiva, canalizando nossa ambição para boas causas, seria perfeito! Mas nosso cenário é totalmente o oposto. Toda a ambição é canalizada na vaidade, no egoísmo, então, por enquanto, continuaremos famintos.
Caramba, como é bom ler um texto questionador assim! E não pude deixar de ligar o texto ao livro Clube da Luta, que é o meu favorito, e que tem um questionamento bem relacionado ao texto.
Obrigado pela leitura, Marina! Ler algo assim num domingo a noite, antecedendo mais uma semana que se inicia é revigorador!

Paulo.

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