Detinha dentro de si um apreço enorme
por Gaia, o que sentia beirava à devoção, porém não podia negar o tremor que a
apoderava ao estar defronte a Urano. Estava dividida, na verdade, estava sendo
disputada internamente, pois era ligada à Gaia por meio de Psiquê, enquanto
Eros a mantinha presa à Urano.
Urano era o objeto do seu fascínio,
guardava por este o Ágape, o Eros, o Philos. Tudo o que sentia em relação a
Urano fazia com que ela estivesse presa à Gaia, o ponto de equilíbrio, o centro
de gravidade. Resumia-se a desejos, vontades, anseios e não há quem possa
julgar tamanha admiração e amor, não quando por mais impuro que o sentimento
aparente ser, ele seja o mais etéreo de todos, apenas por nascer no recôndito
mais secreto e puro de uma mulher, seu coração. Alguns outros menos artísticos
podem dizer que os sentimentos tem sua gênese no cérebro, mas não estraguemos a
beleza, tal mulher amava o que é belo, como poderia evitar amar
incondicionalmente Urano?
Fato é que Cronos não poderia aceitar
tal sentimento, Cronos é menino travesso, gosta de brincar, não atiremos pedras
aos meninos travessos, confiemos que existe certa inocência em seus atos. Urano
e Gaia são seus pais, logo, o sentimento fraterno tem relevância no caso. Pois
bem, Cronos usa de armas específicas, adora provocar a confusão e a sensação de
estar perdido, gosta de fingir que vai sanar suas tristezas, no fim, faz com
que você ande em círculos e pare no mesmo ponto de partida. Mas não julguemos
mal, Cronos é menino, gosta de brincar.
Pobre moça deixou-se desiludir pelas
brincadeiras travessas do menino, afirmavam que ela sofria de um tal de amor
platônico, esta coisa ela não fazia a mínima ideia do que se tratava. Só tinha
a noção de que a devoção oferecida ao Céu Estrelado jamais seria correspondida.
Perdera tempo rodando e rodando, findara parando no mesmo ponto, encontrava-se
sozinha e perdida. Sofria.
Sofria, e por mais que o sofrimento de
não ser amada fosse grande, nada era mais prazeroso do que esperar a noite
nascer e trazer o seu amado com ela. Deitava então sobre o chão. Assim, sem
perceber, era carregada por Morfeu. Todas as noites o mesmo ritual. Apenas ela
não percebia a dedicação do jovem Morfeu, mas este é um rapaz generoso, nunca
esperou recompensa. Deitada, nos braços de Morfeu, ela ouvia, todos os dias, da
boca dele que amanhã seria um outro dia e que não há um dia sem noite, e uma
noite jamais será noite se não tiver um Céu Estrelado. Dessa forma, as palavras
de Morfeu sempre a faziam levantar na manhã seguinte...
Um comentário:
Nem preciso dizer que sou fascinado por mitologia, né?! rs
Seus textos nos levam a outra dimensão de leitura, Marina. E quando se trata de mitologia então, nossa! Estava lendo e imaginando tudo acontecendo e fantasiando cada detalhe do conto. É realmente incrível tudo isso.
O gostoso da mitologia é justamente isso, esse espaço que ela nos concede para que possamos trabalhar em cima dela. A história de Gaia é sensacional e você desenvolveu uma outra história baseada em Gaia que ficou mais sensacional ainda!
Gostei muito, de verdade! Parabéns mais uma vez por mais um excelente texto!
Beijos!
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