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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Continho relativamente mitológico


         Detinha dentro de si um apreço enorme por Gaia, o que sentia beirava à devoção, porém não podia negar o tremor que a apoderava ao estar defronte a Urano. Estava dividida, na verdade, estava sendo disputada internamente, pois era ligada à Gaia por meio de Psiquê, enquanto Eros a mantinha presa à Urano.
         Urano era o objeto do seu fascínio, guardava por este o Ágape, o Eros, o Philos. Tudo o que sentia em relação a Urano fazia com que ela estivesse presa à Gaia, o ponto de equilíbrio, o centro de gravidade. Resumia-se a desejos, vontades, anseios e não há quem possa julgar tamanha admiração e amor, não quando por mais impuro que o sentimento aparente ser, ele seja o mais etéreo de todos, apenas por nascer no recôndito mais secreto e puro de uma mulher, seu coração. Alguns outros menos artísticos podem dizer que os sentimentos tem sua gênese no cérebro, mas não estraguemos a beleza, tal mulher amava o que é belo, como poderia evitar amar incondicionalmente Urano?
         Fato é que Cronos não poderia aceitar tal sentimento, Cronos é menino travesso, gosta de brincar, não atiremos pedras aos meninos travessos, confiemos que existe certa inocência em seus atos. Urano e Gaia são seus pais, logo, o sentimento fraterno tem relevância no caso. Pois bem, Cronos usa de armas específicas, adora provocar a confusão e a sensação de estar perdido, gosta de fingir que vai sanar suas tristezas, no fim, faz com que você ande em círculos e pare no mesmo ponto de partida. Mas não julguemos mal, Cronos é menino, gosta de brincar.
         Pobre moça deixou-se desiludir pelas brincadeiras travessas do menino, afirmavam que ela sofria de um tal de amor platônico, esta coisa ela não fazia a mínima ideia do que se tratava. Só tinha a noção de que a devoção oferecida ao Céu Estrelado jamais seria correspondida. Perdera tempo rodando e rodando, findara parando no mesmo ponto, encontrava-se sozinha e perdida. Sofria.
         Sofria, e por mais que o sofrimento de não ser amada fosse grande, nada era mais prazeroso do que esperar a noite nascer e trazer o seu amado com ela. Deitava então sobre o chão. Assim, sem perceber, era carregada por Morfeu. Todas as noites o mesmo ritual. Apenas ela não percebia a dedicação do jovem Morfeu, mas este é um rapaz generoso, nunca esperou recompensa. Deitada, nos braços de Morfeu, ela ouvia, todos os dias, da boca dele que amanhã seria um outro dia e que não há um dia sem noite, e uma noite jamais será noite se não tiver um Céu Estrelado. Dessa forma, as palavras de Morfeu sempre a faziam levantar na manhã seguinte...

Um comentário:

Causticidade Cotidiana disse...

Nem preciso dizer que sou fascinado por mitologia, né?! rs
Seus textos nos levam a outra dimensão de leitura, Marina. E quando se trata de mitologia então, nossa! Estava lendo e imaginando tudo acontecendo e fantasiando cada detalhe do conto. É realmente incrível tudo isso.
O gostoso da mitologia é justamente isso, esse espaço que ela nos concede para que possamos trabalhar em cima dela. A história de Gaia é sensacional e você desenvolveu uma outra história baseada em Gaia que ficou mais sensacional ainda!

Gostei muito, de verdade! Parabéns mais uma vez por mais um excelente texto!
Beijos!

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