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domingo, 13 de março de 2011

Quando se perde as asas

            E quando a olhei ela estava se debatendo. Tentava desesperadamente levantar voo, talvez não tivesse a noção de que duas de suas asas, especificamente as da direita, estavam faltando. Eu não sei o que uma borboleta pode sentir, mas eu senti angústia, sim, uma angústia que não me deixava mais olhar a borboleta. Total impotência. Eu, humana, Homo sapiens sapiens, racional burro, nada pude fazer. O que a gente faz quando se tiram as asas de quem só sabe voar?
       Metamorfose completa. Ovo, larva, pupa e finalmente, adulto. Sabemos que no final haverá uma borboleta, isso é certo. Triste é não sabermos no que nós mesmos vamos nos tornar. É estranho olhar o passado e comparar com o agora, ver as pessoas que antes estavam tão próximas se afastarem, ver as pessoas mudadas de uma forma completamente não imaginada. Metamorfose estranha a nossa, totalmente incerta. Haverá borboleta no final?
       O engraçado é que a gente só repara nas mudanças ocorridas nos outros, nem sentimos a metamorfose gradual sob a qual estamos expostos o tempo inteiro. Só de pensar que já fui ovo e larva, hoje tenho dúvidas do que me tornei. Haverá borboleta no final?
       Não se podem tirar as asas de quem só sabe voar. Não consegui mais olhar, não sei o que aconteceu. Acho que a borboleta morreu, morreu tentando fazer a única coisa que sabia: voar. Pobre Ícaro morreu tentando voar, é o que acontece quando o homem que sabe que sabe tenta fazer o que não lhe convém. Mantenha as suas asas, não use cera de abelha. Faça um longo voo, borboleta. Sou lepidoptera. O que a gente faz quando se tiram as asas de quem só sabe voar?


         Só me resta uma única certeza, a de que eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo .. ♪

2 comentários:

Causticidade Cotidiana disse...

Texto com ar nostálgico. Os segundo e terceiro parágrafos mostraram bem isso.
É triste tirar as asas de quem só sabe voar. É triste querer ajudar, mas ser "impotente" na situação. Ver aquilo acontecer, olhar, observar e apenas dizer: Vá em paz.
É interessante isso: Estamos em constante mudança, mas só notamos as mudanças alheias. As nossas, só nos damos conta de que ocorreram, quando sentamos e refletimos e lembramos e...bom, julgar os outros de primeiro instante é fácil, quero ver julgar-se a si próprio aqui, agora. Eu sofro de um sério problema que meu auto-julgamento sobre mim é totalmente controverso rs
Lindo texto Marina. Palavras lindas e que serviram MUITO para mim nesse momento!
Queria agradecer todo o carinho que você tem transmitido. Obrigado mesmo!

Beijos, excelente semana!

Jc Bobsin disse...

lindo, lindo, lindo, Marina

to te seguindoo

take a look...
http://moulinrougeman.blogspot.com/

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