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domingo, 9 de outubro de 2011

Stricto sensu


         Tudo é sufoco. As palavras que colidem umas com as outras a fim de encontrar um jeito de explicarem a si mesmas; as horas que passam tão rapidamente a ponto de serem impedidas de passar; os cheiros tão presentes na ausência; as egoístas perdas que jamais se deram o trabalho de perguntar se eu estava de acordo com a tomada do que era meu, talvez por direito, quem sabe por generosidade; a pressão do pensamento impressionado com a mente sem saída. Apenas sufoco.
         Diz-se que há uma razão, um porquê para todas as coisas,ou seja, um sentido. Ah, quem dera poder sentir que há um sentido. Então, dizer que há um porquê para tudo é o mesmo que dizer que tudo deve fazer sentido? Fazer sentido. O que é isso? Até quando teremos de engolir o “como” e não termos o “porquê” para não ficarmos entalados? Até quando teremos a descrição sem o sentido estrito? E o que se pode saber quando o que é dito não corresponde ao que é visto? Eu sei, é tudo sem sentido.
         Acontece que somos todos atores, estamos todos no mesmo palco, e quando ao vivo o show não pode parar, por isso, alguns improvisos são necessários. Estamos ao vivo e sabemos o momento e o como entramos no palco, não sabemos o porquê. Estamos ao vivo e não sabemos o momento do nosso ato final, tampouco o porquê, só é sabido que queremos um grande espetáculo. Talvez esse seja o sentido estrito, o único, fazer um grande espetáculo. O futuro é deus incerto, insuportável é sufocar-se com o que se não compreende, com o que não faz sentido a seus olhos. Talvez tudo dependa apenas do observador, afinal, não há um referencial absoluto. Estamos todos vivos sem motivos, que motivos temos para estar? Apenas para fazer um grande espetáculo, curvar-nos diante da magnificência da nossa plateia e deixar que as luzes apaguem e fechem-se as cortinas.
         Com ou sem sentido, minhas palavras apenas fluem por entre os meus dedos, deformadas pela colisão entre elas, sem ao menos saberem se explicar. Ainda. Rendo-me à magnificência de cada um que teve a paciência de assistir ao espetáculo às avessas de minhas palavras, que honra é poder ter seres tão complexos gastando algum tempo comigo, consigo. Cada um de nós tem um universo inteiro dentro de si. Com toda a certeza, somos todos meninos brincando no palco da existência e no teatro do tempo. Obrigada.


Apagam-se as luzes, fecham-se as cortinas. Não necessariamente nessa ordem.

3 comentários:

Causticidade Cotidiana disse...

Imagina só se tudo, absolutamente tudo o que passamos, vivemos e sentimos, fizesse sentido? Seria estranho. Se há sentido, há o porque, há explicação, portanto há precaução, remédio e cura, fácil cicatrização. Dessa forma, nunca aprenderíamos, nunca erraríamos...que sem graça! É melhor que nem tudo faça sentido, porque aí caímos, erramos...não sou desses que gostam de errar para aprender, prefiro aprender com erros terceiros, mas a queda se faz necessária, assim como a felicidade também se faz necessária e aprendemos muito com ela.
Acho que se tudo fizesse sentido, não haveriam julgamentos, dúvidas, e o intrigante do viver é duvidarmos, questionarmos. Com tudo tendo sentido, os banhos seriam reduzidos, afinal, pensaríamos menos...mas será que seríamos tão pertinentes?
Estamos ao vivo...não estamos vivos porque queremos, estamos vivos porque devemos estar. Estamos ao vivo e erros acontecem, mas deve haver flexibilidade e coragem para encará-los para que, o auge, o ápice, o encerramento, seja com chave de ouro. E talvez isso não faça sentido algum, mas aí a gente se questiona sobre isso.
Fato é que seu texto está incrível, Marina! Estava com saudades de ler suas palavras e confesso que dediquei algumas muitas horas lendo seus textos passados nesse tempo em que ficou sem atualizar o blog. Sei que o tempo é escasso e que nos falta tempo no nosso tempo, mas vê se arruma um tempinho para mais atualizações rs

Beijos, moça!

Calcanhar de Aquiles disse...

Na vida não tem ensaio.
Talvez o grande espetáculo da vida está em procurarmos ö "sentido" pelo que se vive.

Abração do amigo "Calcanhar".

Thazinha disse...

Oii Marina, encontrei o link do seu blog no orkut,muito bacana essa reflexão,acredito que apenas temos que caminhar,sonhar,acreditar,planejar e viver sem ficarmos preocupados como e quando tudo acontecerá,já estou seguindo o seu blog, quando puder segue o meu também :)

http://www.quatroestacoesdabeleza.blogspot.com

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