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domingo, 20 de novembro de 2011

No desespero


          Ah, deixe-me me morrer, por um segundo ou dois, ou por tempo suficiente que me faça lembrar que é bom viver, que o mundo anda complicado, mas o que a gente quer é apenas estar junto, porque fazemos parte um do outro, todos nós. Deixe-me sem ar para que eu lembre que não há alívio maior do que sentir o oxigênio entrar em seus pulmões e fazer seu coração bater. Apenas não me deixe...
         Beija-me a pele a chuva. Ácida. Queima como as palavras proferidas pelas línguas ferinas tão feridas por outras línguas, tão vingativas, formando um ciclo vicioso que jamais acaba. E as cobras engolem as cobras para não serem engolidas. Para não serem engolidas por outras cobras, para não serem engolidas por elas mesmas, de dentro para fora. Como um selvagem que sente uma insaciável fome. Beija-me a pele a chuva, beija-me os lábios, sinto na língua o gosto da água que é adoçada com ácido sulfúrico. Queima a pele. Chuva. Ácida. Chuva ácida. Palavras soltas. Sem sentido. Desespero. E de que isso importa? De que qualquer coisa importa para qualquer um? Pobre Universo, como pode um único universo ter tantos umbigos? Sim, vós todos, Umbigos do Universo. Continuemos todos a agir e a viver como se o Universo inteiro fosse apenas de cada um de nós, afinal, quem um dia irá dizer que não é?
         E eu estava a pensar em bilhões de coisas, bilhões de coisas que me trazem uma mistura de tristeza e raiva, coisas estas das quais quero apenas me desconectar. Então eu imagino o infinito, e infinito me enche como se dentro de mim pudesse caber o incomensurável, porque somos parte do Universo, o Universo está em nós. A coisa mais importante que ele aprendeu, sua descoberta mais fantástica: tudo está relacionado. É simplesmente a descrição da complexidade na simplicidade de uma frase. Há tanto para se ver, há tanto para saber. Deixe-me apenas continuar sendo nada, para que eu possa contemplar o infinito. Deixe-me apenas continuar sendo pó de estrelas que morreram há bilhões de anos, para que eu saiba que há um quê de fascínio maior do que eu possa imaginar. Deixe-me apenas continuar sabendo o que é importante, aqui, no desespero...

3 comentários:

Anônimo disse...

E no desespero meu coração sufoca, triste personificação. Porém, ela disse: - "O coração não tem nada a ver com isso". Ele retruca: - "Pode ser que não, mas é lá que sentimos tudo." Pensamentos aleatórios, breves imagens na cabeça. Certeza? Só que a amo. Desespero? A todo momento. Pergunto-te qual foi a coisa mais importante que aprendeste, tu falas: - "Tudo está relacionado". Verdade, tudo tem relação, posto que não saibas. O universo surgiu de uma diferença infinitesimal entre matéria e anti-matéria. O universo de Anaximandro, nossa, cerca de 600 anos antes de cristo. Ela me diz: -" Que saudades do tempo em que a coisa mais foda era ser filósofo". E eu penso, que ser incrível. That's impossible. Fato é que tudo se encontra encadeado, você é produto da diferença infinitesimal entre matéria e anti-matéria. Meu peito sufoca, breve tentativa de acalmar a mente. Filosofar. Encontro-me em desespero, minha mente carrega a dúvida e minhas costas o universo inteiro. E só existe um pilar que sustenta tudo, e esse pilar é capaz de fazer o impossível. Diz para mim uma razão para viver.

Marina T. disse...

E ela só pode dizer anonimamente que ele é o ser mais fascinante do Universo, e o mais inteligente. Please, show me what to live for... Anônimo, ela reconheceria suas palavras em qualquer lugar do infinito.

Causticidade Cotidiana disse...

Creio que, antes de aprender qualquer outra coisa, deveríamos aprender a valorizar simples atos que nosso corpo caracteriza como naturais e automáticos para a sobrevivência, como, por exemplo, respirar. Sei lá, não precisamos quase morrer para valorizar a entrada de ar em nossos pulmões. Não gosto de aprender errando, prefiro aprender com o erro dos outros, aí minhas chances de falhar são nulas. E crendo que o erro dos outros me causa aprendizado também, então fica claro, mesmo que de maneira estúpida, que tudo é interligado mesmo. Há relação, ligação em tudo.
O admirável da vida, do Universo, é saber que quando achamos que já sabemos de tudo, percebemos que não sabemos quase nada, e aí vamos em busca de mais conhecimento.
Sei lá, mas acho que a vida é uma competição onde, quem vence não é aquele que vive mais, mas sim quem adquire mais conhecimento até seu último suspiro.

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